O mundo do trabalho está passando por uma transformação sem precedentes, impulsionada principalmente pelo avanço acelerado da inteligência artificial (IA). Enquanto organizações inteiras se adaptam a essa nova realidade, uma pergunta crucial emerge: os líderes da sua empresa estão preparados para os impactos da IA em suas equipes e estratégias?
A IA já não é mais uma promessa futurista — ela está redefinindo processos, automatizando tarefas e exigindo uma reinvenção das competências de liderança. Líderes que desejam prosperar nesse cenário precisam ir além da simples adoção tecnológica; devem desenvolver habilidades que lhes permitam gerenciar, complementar e potencializar o trabalho humano em sinergia com as máquinas.
Segundo o Future of Jobs Report 2025 (Fórum Econômico Mundial), mudanças no mercado de trabalho que atingirão 22% dos empregos até 2030, com 170 milhões de novas funções a serem criadas e 92 milhões destituídas. O relatório constatou que a lacuna de habilidades continua sendo a barreira mais significativa para a transformação dos negócios hoje. Cerca de 40% das habilidades exigidas no trabalho devem mudar e 63% dos empregadores já citam esse problema como a principal barreira que enfrentam. Habilidades tecnológicas em IA devem ter crescimento acelerado de demanda e os líderes que souberem navegar nessa transição terão vantagem competitiva.
Destaco aqui algumas competências que estão no centro dessa discussão:
1. Domínio Estratégico da IA: para além da adoção tecnológica
A primeira competência crítica é a capacidade de entender e aplicar a IA de forma estratégica. Líderes não precisam ser especialistas em machine learning, mas devem compreender como a IA pode gerar valor para seus negócios. Isso inclui:
- identificar oportunidades de automação inteligente sem perder de vista o fator humano;
- equilibrar eficiência e empatia, garantindo que a tecnologia não substitua, mas sim amplifique habilidades humanas; e
- tomar decisões baseadas em dados, integrando análises preditivas e ferramentas de IA ao processo decisório.
2. Inteligência Emocional Amplificada: o diferencial humano
Enquanto a IA avança em tarefas técnicas, a inteligência emocional (IE) se torna o grande divisor de águas entre líderes eficientes e obsoletos. A capacidade de gerenciar conflitos, inspirar equipes e cultivar relacionamentos autênticos não pode ser replicada por algoritmos.
Líderes com alta IE serão essenciais para:
- mediar a interação humano-máquina, reduzindo resistências e ansiedades relacionadas à adoção de IA;
- liderar equipes multigeracionais e multiculturais, onde expectativas e níveis de adaptação à tecnologia variam significativamente; e
- promover bem-estar em um ambiente de mudança acelerada, mitigando o estresse e a incerteza causados pela transformação digital.
3. Adaptabilidade e Aprendizado Contínuo: A nova moeda de valor
A velocidade da evolução da IA exige que os líderes adotem uma mentalidade de aprendizado contínuo. Não se trata apenas de dominar novas ferramentas, mas de reinventar-se constantemente diante de mudanças disruptivas.
Organizações que investem em upskilling e reskilling de suas lideranças estarão mais preparadas para:
- antecipar tendências e ajustar estratégias rapidamente;
- fomentar uma cultura de inovação, onde experimentação e falha são parte do crescimento; e
- atrair e reter talentos, já que profissionais buscam ambientes que valorizem o desenvolvimento.
4. Liderança Ética e Responsável: o dilema da IA
Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades. A IA traz desafios éticos, como vieses algorítmicos, privacidade de dados e impactos no emprego. Líderes devem, portanto:
- garantir transparência nos processos automatizados;
- promover uso responsável da IA, evitando decisões discriminatórias ou desumanizadas; e
- equilibrar produtividade e propósito, assegurando que a tecnologia sirva a objetivos humanos e sociais.
5. Resiliência e Visão Sistêmica: liderando em um mundo VUCA+IA
Ambientes de negócios já eram voláteis (VUCA); agora, a IA adiciona uma nova camada de complexidade. Líderes resilientes serão aqueles que:
- antecipam cenários e preparam suas equipes para mudanças radicais;
- integram dados e intuição para decisões ágeis em meio à incerteza; e
- inspiram confiança, mesmo quando o caminho futuro não está totalmente claro.
Com isso, conclui-se que a liderança do futuro é híbrida (Humana + IA). O futuro do trabalho não será uma disputa entre humanos e máquinas, mas uma colaboração estratégica. Líderes que combinam competências técnicas em IA, inteligência emocional, aprendizado contínuo, ética e resiliência estarão à frente nessa nova era.
A pergunta urgente é: como sua organização está preparando suas lideranças para liderar com — e não contra — a inteligência artificial?
Por Vinícius Farias, Superintendente do FGV In Company e Doutorando em Administração (FGV EAESP)